Cuidar do corpo e da mente durante a pandemia

Tristeza, incerteza, medo: a emergência de saúde global do coronavírus nos forçou a mudar nosso estilo de vida, mas cuidando do corpo e da mente, podemos superar essa fase


Ficar em casa, manter distância dos familiares, mudar totalmente a rotina de um dia para o outro. Essa confusão e incerteza sobre o futuro podem gerar estresse e tristeza, por isso, é necessário cuidar do corpo e da mente para que esse período se torne o mais tranquilo possível.

Nestes momentos críticos nossa mente tem a tendência a assimilar muitas informações que acabam transformando-se em medo, angústia, insegurança, entre outros. Por isso é importante saber que nossos pensamentos influenciam nossas emoções. E o estado emocional alterado pode, por consequência, criar doenças psicossomáticas. Há estudos que comprovam que a depressão, por exemplo, afeta nosso sistema imunológico.

Pessoas que têm o lado racional/mental mais acentuado é tentando explorar outras partes que constituem o nosso ser. Prestar atenção nos seus sonhos, por exemplo, é uma das formas mais bonitas e emocionantes de dialogar consigo mesmo. Percebemos neste momento que há algo mais profundo, que nos desconecta da razão, da mente, e nos leva a uma leitura do que nossa alma está querendo nos dizer. Eles nos dão uma resposta, nos dão muitas vezes uma nova percepção para tudo que estamos vivendo neste momento da nossa existência. Anote seus sonhos.

A mente às vezes mente. Pois muitas vezes, de tanto pensar, de tanto acumular informações, a pessoa fica paralisada, gerando medos, angústias e ansiedade. A palavra coragem vem de coração. Portanto se você fortalecer seu estado emocional, a mente trabalhará conectada à coragem de enfrentar qualquer desafio. O momento é de diálogo com todas as partes do nosso ser. Corpo, mente, alma, emoção, espiritualidade. Os sábios antigos já sabiam disso. A humanidade já passou por várias provações. E é nesse momento que precisamos tentar ser apenas os melhores seres humanos que conseguirmos ser.

cuidar do corpo e da mente
Tire um tempo para o seu “eu” (Foto: Shutterstock)

A informação é uma das armas mais perigosas usadas pela mídia. Muitas vezes as informações são distorcidas, ou até mesmo manipuladas. Manter o foco é uma das tarefas mais difíceis de ser alcançada, ainda mais com essa facilidade de ter muitas redes sociais contidas no celular. Tentar deixar o celular de lado por determinadas horas do dia, conectar-se ao seu filho, à sua casa, às plantas, à limpeza do seu espaço, e até mesmo a atividades como escrever seus pensamentos num diário, podem ajudar a pessoa a perceber outros aspectos da vida real, da natureza, das relações com familiares e consigo mesmo. As pessoas estão cansadas de tanta vida virtual. O Home office pode ser prático, mas muitas pessoas estão relatando um maior desgaste físico e mental diante deste tipo de modalidade de trabalho.

Sentir e cuidar do seu corpo, da sua mente, das suas emoções, da sua família, da sua alma, são os objetivos deste momento crítico. Algumas mães/professoras estão estressadas com esse confinamento. Outras estão conseguindo ter uma relação amorosa tão bonita com seus filhos que eles estão progredindo de uma forma que não imaginavam ser possível. Traga o foco para o seu momento presente. Inclusive essa orientação está dentro do objetivo do mindfulness, meditação, e todo aparato existencialista que conhecemos. Se você está ensinando seu filho, olhe em seus olhos, conecte-se a ele. Se está cozinhando, foque sua atividade nessa tarefa, esqueça o celular por um tempo. Se estiver trabalhando, faça o seu melhor. Ouça-se. Desligue-se, desapegue… o mundo não vai acabar se você se desconectar dele por um tempo. Mas o seu mundo pode acabar se você se conectar a informações destrutivas que muitas vezes podem gerar pânico, ansiedade, e depressão. Aproveite para recriar a forma como está lidando com a sua vida.

Há um movimento interessante acontecendo com a quarentena. Muitas pessoas estão experimentando fazer seu próprio alimento. E os nossos 5 sentidos são utilizados neste momento. Observamos as cores, a textura, o cheiro, o sabor, o som do alho fritando para preparar seu prato preferido. Essas sensações nos conectam ao momento presente. Ao aqui e agora. É como se entrássemos num estado meditativo.  Uma monja fazia o seu alimento desde o plantio até o prato final, e cada detalhe era feito com tanto esmero que se tornava um ritual de gratidão pelo alimento que estava sendo preparado. O alimento simbólico e real nos leva a nos conectarmos à nossa própria existência, e muitas vezes a ter consciência de que o vinho que tomamos, por exemplo, passou por um processo de plantio, colheita, de preparação alquímica que nos mostra uma história. O vinho traz o sabor e a história de uma jornada, de um país, de uma terra, e de tudo que se constela desde a raiz, o fruto, as mãos do agricultor, até o engarrafamento e a taça que você degusta em sua casa.

Muitas crianças estão relatando o quanto é bom ter a mãe por perto, o quanto é bom sentir o gosto da comida que sua mãe prepara. Levamos isso para a vida. São sensações e sentimentos que alimentam muito mais do que apenas o nosso corpo. Então vale a pena cuidar da alimentação, em todos os sentidos.

A atividade física é mais prazerosa se realizada ao ar livre, quando nos conectamos à natureza, ao vento, ou para alguns, a grupos ou pessoas queridas. Talvez pessoas mais habituadas a se exercitarem dentro de academias se adequem mais às atividades dentro de casa. O problema do espaço físico também pode atrapalhar muitas vezes. E as academias dos prédios residenciais estão em sua maioria fechados. Aulas virtuais que orientam as pessoas a práticas físicas estão cada vez mais em alta neste momento, e parece ter funcionado muito bem na maioria dos casos.

Mas o interessante é a relação entre o narcisismo e o confinamento. Algumas pessoas exageram nos exercícios físicos e modelam seus corpos exaustivamente para ser exibido, para ser visto, num movimento mais narcísico do que saudável. Agora a pessoa está sendo obrigada a ver-se o tempo todo sozinha. No máximo exibir-se virtualmente nas redes sociais. E atividades como alongamento, yoga, Tai chi, que propiciam também um bem estar emocional estão ganhando mais adeptos.

O vírus está obrigando as pessoas a terem outra relação com seu próprio corpo. O foco é na saúde, na higiene, no cuidado. É um chamado para perceber outras faces da relação com nós mesmos.

FONTE: um papo com a  psicóloga Sandra Midori Kuwahara Sasaki, graduada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, com especialização em Saúde Mental e Qualidade de Vida pela Unifesp-EPM, e Mestrado em Ciências da Saúde pela Unifesp-EPM.


Liliane Oliveira
Psicóloga clínica e Hospitalar e Instrutora em Yoga. Atendimento terapêutico individual, casal, família e de pessoas acometidas por doenças crônicas e agudas. Ministra aulas particulares de Hatha Yoga. Dedicada também ao estudo de advaita vedanta, neurociências, sustentabilidade e alimentação inteligente. Promove trocas de saber sobre qualidade de vida e morte, valorizando um estilo de vida em Yoga. www.lilianeoliveira.org

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