“Mentiras sinceras me interessam”

A força das notícias falsas no mundo digital.


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Se você ficou espantado com o tamanho da bolha nas redes sociais após as eleições municipais, imagine o que sentiram os dirigentes de grandes veículos de comunicação americano quando o republicano Donald Trump venceu. Um pouco diferente do Brasil, por lá, a mídia não apenas abriu o voto como fez campanha para a democrata Hillary Clinton, sem sucesso. Mas encontrou uma pedra no meio do caminho: as notícias falsas.

As informações falsas sobre as eleições chamaram mais atenção no Facebook do que as matérias jornalísticas verdadeiras, nos últimos três meses da campanha presidencial americana, de acordo com uma análise do site BuzzFeed News. O BuzzFeed calculou que as 20 maiores histórias procedentes de sites especializados em “hoax” (farsas, piadas) e de blogs partidários geraram no período pouco mais de 8,7 milhões de comentários, reações e compartilhamentos na maior rede social do planeta.
Os 20 textos mais bem classificados dos sites verdadeiros de informações, como The New York Times, The Washington Post e Huffington Post, registraram 7,4 milhões de reações.

No período precedente aos três meses anteriores à eleição presidencial, os textos dedicados à campanha publicados pelos grandes meios de comunicação registraram resultados muito melhores que as informações falsas ou manipuladas. A vitória de Donald Trump na eleição americana de 8 novembro provocou uma grande polêmica sobre a quantidade e a influência das informações falsas que circularam na rede. O Facebook, em particular, foi acusado de ter contribuído para a surpreendente vitória do magnata ao permitir a livre circulação de notícias equivocadas.O presidente e fundador da empresa, Mark Zuckerberg, rejeitou a ideia, que chamou de “bastante louca”, mas ao mesmo tempo afirmou que os usuários estão pouco inclinados a clicar em links e ler artigos compartilhados se consideram que estes não estão de acordo com suas opiniões pessoais.
Pois foi isso que Brad Parscale, estrategista digital da campanha, imaginou, e usou os US$ 90 milhões dedicados por Trump para essa rubrica em busca de contribuições – e portanto usando o digital como ferramenta, não apenas como plataforma. Cerca de US$ 250 milhões chegaram à campanha por essa via.

Além do uso do Facebook como um canal de publicidade, a estratégia explorou como nunca a incrível capacidade de personalização de anúncios dentro do site – algo ainda proibido nas campanhas eleitorais brasileiras. Em média, relata Parscale, cerca de 50 mil variações diferentes de uma única peça foram testadas por dia – uso ou não de legendas, imagem estática ou vídeo, idade, gênero e localização do receptor, entre outras diferenças sutis. Os números são difíceis de acreditar até ele te contar que no dia do debate presidencial foram 175 mil possibilidades testadas com os mais variados públicos em anúncios dentro do Facebook.
Enquanto Hillary gastava mais de US$ 200 milhões em comerciais de TV na reta final da campanha, o laboratório de Parscale produzia milhares de opções de conteúdos que recebiam investimento variado no Facebook e toda sorte de configuração de entrega.
É uma história para onde devemos olhar se quisermos entender todos os meandros daquele que muitos consideraram como um resultado surpreendente além de avaliar o peso das notícias falsas nas nossas vidas e as consequências dessas não-informações.



Dani Bogoricin
Daniela Bogoricin é curiosa e apaixonada pelo novo. Formada em Administração e Marketing pela ESPM-RJ, sempre esteve envolvida com o universo das artes, música e comunicação. Atua há 12 anos nas áreas de planejamento, criação e branding nas agências Santa Clara, Young & Rubicam e WMcCann e atualmente é estrategista de marca do Twitter Brasil auxiliando marcas como Coca-Cola, Mc Donald’s, Visa. Mondelez, Nestlé, Petrobras, Santander, Itaú entre outras relevantes na plataforma. Faça contato com ela pelo: https://br.linkedin.com/in/danibogoricin



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