A pesquisa evidencia nossos contrastes, o acesso à cultura reflete a desigualdade no Brasil
Quase um terço da população (32%) depende de acesso gratuito para ir a eventos culturais, indicou um levantamento feito pela consultoria JLeiva Cultura e Esporte, em parceria com o Datafolha. Para 40%, frequentar atividades gratuitas é mais comum do que participar de atividades pagas, como ir ao cinema, ou assistir a shows musicais.
A pesquisa “Cultura nas Capitais” entrevistou 10.630 pessoas nas 12 capitais mais populosas do Brasil: São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Fortaleza, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Manaus, Recife, Porto Alegre, Belém e São Luís. Estima-se que 33 milhões de pessoas vivam nessas cidades. Os participantes, a partir dos 12 anos, tiveram de responder 55 perguntas, em coleta de dados que aconteceu entre os dias 14 de junho e 27 de julho de 2017. A ideia era observar o quanto 14 diferentes hábitos culturais fazem parte da rotina dos brasileiros, relacionando-os a fatores como sexo, idade, escolaridade e renda. Os resultados foram divulgados em evento na última terça-feira (24) e estão reunidos neste site. Na quarta-feira (25), porém, a página estava com problemas de visualização.
Quando brasileiros precisam pagar para ter acesso a atividades culturais, o roteiro preferido é o cinema: 64% assistiram a filmes fora de casa ao menos uma vez nos últimos 12 meses. A cidade mais cinéfila entre as pesquisadas é Porto Alegre, onde 70% da população entrevistada diz frequentar salas de cinema regularmente.
Shows aparecem na segunda colocação, com 46%, e museus, frequentados por 31% dos entrevistados, na terceira. Atividades como festas populares e feiras de artesanato vêm na sequência.
Ler livros é o hábito cultural preferido por quem não sai de casa: 68% dos entrevistados disse ter lido ao menos um livro no último ano. Cerca de 15% das pessoas não tiveram acesso a um livro sequer. Salvador se mostrou a capital em que as pessoas mais dedicam tempo livre à leitura: 72% dos entrevistados. Em Recife, capital que menos lê, esse número é de 56%.
As regiões Norte e Nordeste mostraram menor acesso a serviços diversos de cultura. Manaus, por exemplo, é a cidade em que as pessoas vão menos ao teatro (23%) e a shows (37%). Apenas 19% dos moradores de Salvador disseram frequentar museus e galerias, bem como só 7% dos habitantes de São Luís, capital maranhense, disseram acompanhar concertos de música clássica.
Belém, no Pará, é a capital que menos vai ao cinema: 53% dos belenenses disseram ter ido ao menos uma vez no último ano. Brasília, por sua vez, é a cidade em que mais pessoas frequentam bibliotecas.
Habitantes da capital mineira foram os que registraram maior interesse por cultura nas 12 capitais analisadas. Belo Horizonte liderou a pesquisa em quatro quesitos:
Mulheres têm maior interesse em atividades culturais que homens. Apesar disso, tendem a ir com menor frequência do que eles.
Quanto ao desejo por visitar museus e exposições, por exemplo, 60% delas disseram querer fazer programas do tipo, enquanto, para o sexo masculino, esse total foi de 52%. Porém, 33% deles disseram ter recorrido a esse tipo de lazer nos últimos 12 meses, enquanto 29% das entrevistadas fizeram o mesmo. Entre as mulheres, 71% mostraram desejo em ir ao cinema, mas só 62% disseram, de fato, terem ido. No caso dos homens, esse total foi de 66%.
Quanto maior o grau de instrução formal, mais as pessoas participam de atividades culturais. Em dez das 14 opções, o número de cidadãos com ensino superior que disseram frequentar atividades culturais representa pelo menos o dobro dos que concluíram os estudos até o Ensino Fundamental. Cerca de metade destes disseram nunca ter ido a museus, teatros, espetáculos de dança ou bibliotecas na vida.
João Leiva, diretor da consultoria JLeiva Cultura & Esporte, em entrevista ao Jornal OGlobo