Valores: Diretrizes para a Ação

O que são valores ?


Karma Yoga CAPA Bogoricin Prime

Quando considerado em seus diferentes aspectos, o valor de ser uno consigo mesmo oude usufruir de uma mente tranquila resulta nos vários valores da vida: autenticidade, não-agressão, compaixão e assim por diante. Karmayoga é também um valor relacionado à realização da ação, porque ele gera uma mente tranquila, livre de gostos e aversões. Valores são diretrizes para a realização de ações, a direção de negócios, as transações e o relacionamento com os outros. Essas diretrizes são importantes quando alguém se defronta com conflitos no tocante ao modo de agir em determinadas condições ou a como decidir o que é certo ou errado. Mala , ou impureza, já foi descrita como aquilo que mantém alguém afastado de si próprio: gostos, aversões, projeções. Valores são exatamente o oposto; quer dizer, eles mantêm a pessoa consigo mesma. Seguindo valores na vida, ela está apta a combater tendências negativas de gostos e aversões e, no decorrer do tempo, adquire uma mente pura e tranquila.

Todas as escrituras recomendam valores para serem seguidos como sadhana; são qualidades a serem adquiridas. Quando se analisa um valor qualquer, verifica-se que ele leva a um valor – gerar uma mente tranquila e manter a pessoa consigo mesma. Quando isso é compreendido, a importância ou a necessidade de seguir valores pode ser apreciada. Senão os valores permanecem apenas como mandamentos, como “faça e não faça”. O problema principal que as pessoas têm com os valores é que elas os aceitam sem descobrir o valor deles. Um pai adverte a filha para falar a verdade. A criança aceita a ordem devido ao amor e ao respeito que tem pelo pai, mas não entende porque ela deve dizer a verdade e não dizer uma não-verdade. O pai não levou a filha a descobrir o valor de dizer a verdade; sua importância na vida não foi explicada. Isso permanece em sua mente como um valor não assimilado que não poderá ser relacionado na vida do dia a dia. O valor de dizer a verdade é de novo confirmado por professores e pes­soas mais velhas, mas a sua relevância para a vida nunca vem a ser compreendida pela criança.

Quando cresce, a criança adquire um valor pelo dinheiro e pelo poder. Falar a verdade permanece apenas como uma obrigação imposta por seu pai e seus professores, e então isso não tem valor para ela. Mas ganhar dinheiro tem um valor, porque, evidentemente, dinheiro é necessário para viver, para obter prazeres e segurança. O mesmo se pode dizer com relação a obter poder. Os benefícios de adquirir dinheiro e poder são evidentes, as pessoas desenvolvem então um valor por eles. Esses valores são assimilados, não são valores resultantes de obrigações. Se para obter dinheiro e poder for preciso dizer uma não-verdade, a pessoa a dirá, porque dinheiro e poder são considerados importantes, enquanto a verdade não o é. Seu valor não foi descoberto. Falar a verdade é praticado apenas como uma obrigação para com o pai, o professor ou a sociedade, enquanto os valores por dinheiro e poder são assimilados, valores pessoais.
Que chance possui o falar a verdade quando as coisas importantes na vida são dinheiro, poder, amigos e influência sobre as pessoas. Falar a verdade é praticado apenas enquanto for conveniente – enquanto não constituir obstáculo para a consecução de outros objetivos. Assim, os valores por certas coisas, como dinheiro, têm sempre a última palavra. Valores como falar a verdade sempre são sacrificados. A conveniência, não a verdade, torna-se a norma reguladora.

Valores não assimilados criam conflitos e um sentimento de culpa. A fim de assimilar valores, é preciso compreender o valor dos valores. Um valor é um valor apenas quando o valor dos valores é valorado. Uma mente simples, tranquila é a coisa mais valiosa, porque é isso que a pessoa está tentando obter através de todos os empenhos na vida.
Os valores que ensejam a aquisição desse estado mental deveriam ser os mais valiosos. Assim, se o valor de falar a verdade é descoberto como sendo maior ou pelo menos igual a ganhar dinheiro, a verdade não ficará comprometida por causa do dinheiro. Além do mais, o dinheiro é para benefício de mim mesmo, não para o dele próprio. Se, então, o dinheiro não me trouxer felicidade e conforto, eu certamente renunciarei a ele.

Estou querendo me livrar de qualquer coisa que não me permite estar confortavelmente comigo mesmo. Em todas as ocasiões de escolha, tenho instintivamente adotado uma escolha que, na minha opinião, vai me permitir ficar comigo mesmo. Não é que eu não tenha um valor por uma mente pacificada, tranquila, alegre; esse fato é que não está claramente assimilado. Não compreendo que eu quero dinheiro, poder e coisas parecidas por causa de mim mesmo, não pelo dinheiro em si. Acho que dinheiro e poder me trazem felicidade por eles mesmos; por isso eu atribuo um valor errado a essas coisas.

Instintivamente, a pessoa possui um valor pela verdade, pela não-agressão e por outros valores que lhe propiciam usufruir da paz da mente. Quando este valor instintivo, que não é assimilado intelectualmente, é confrontado com os falsos mas assimilados valores pelo dinheiro e por coisas do gênero, surge um conflito. Por exemplo, a pessoa não apenas tem um valor instintivo pela verdade, mas, na maioria dos casos, também sabe o que é a verdade numa determinada situação.

Por essa razão, quando acha necessário dizer algo falso por ser conveniente, uma divisão surge dentro dela. A verdade é conhecida; uma mentira tem que ser inventada. No curso do tempo, essa divisão torna-se um hábito. Quando uma ação vai ser realizada, quem pensa decide uma coisa, quem age decide outra! A pessoa não se considera capaz de fazer o que quer fazer. Ela está sempre em conflito, sentindo culpa ou medo. Julga-se então diferente daquilo que é. Complexos de superioridade e de inferioridade aparecem. Nada pode ser mais prejudicial do que isso . Uma mente em conflito é uma mente agitada, inadequada a algo que valha a pena na vida, especialmente ao estudo das escrituras.

Assim, quando o dano provocado por não dizer a verdade é apreciado, o valor da verdade é reconhecido.
Falar a verdade com conhecimento e convicção mantém alinhados pensamento e ação, evita conflitos e agitações e produz uma mente tranquila.

Na Bhagavadgita, o Senhor Krsna oferece uma relação de valores que um buscador espiritual deveria seguir para atingir uma mente pura, uma mente adequada ao estudo das escrituras. Alguns desses valores são ausência de orgulho, despretensão, não-agressão, paciência e retidão. Esses valores serão analisados de forma sucinta para mostrar como cada um ajuda a pessoa a seguir a sua natureza, a evitar conflitos e a gozar de uma mente tranquila ou pura.

 Trecho retirado de: https://www.vidyamandir.org.br/texto-dayananda-28

Por Swami Dayananda Saraswati
Tradução Lucia Cantanhede

 


Liliane Oliveira
Psicóloga clínica e Hospitalar e Instrutora em Yoga. Atendimento terapêutico individual, casal, família e de pessoas acometidas por doenças crônicas e agudas. Ministra aulas particulares de Hatha Yoga. Dedicada também ao estudo de advaita vedanta, neurociências, sustentabilidade e alimentação inteligente. Promove trocas de saber sobre qualidade de vida e morte, valorizando um estilo de vida em Yoga. www.lilianeoliveira.org

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