Quem tem corpo, tem dor. Quem vive, perda terá. Quem está vivo, morrerá.
É inerente à condição humana todos estes fatos?
Pressupondo que se está vivo, morrer e experimentar emoções diversas são inelutáveis.
Vivemos numa sociedade ocidentalizada que associa sofrimento e pesar aos temas: perda, frustrações, doença, limitações e morte. Desse modo, a psicologia e outros saberes tem serventia para nosso tipo de organização social.
A crença de que lidar com perda e morte é muito difícil e doloroso determina a forma como recebemos tais acontecimentos. Seja internamente ou num meio social. Muitos evitam pensar e conviver com tais sentimentos e situações seja ignorando, embotando, evitando ou deixando para depois.
Todo mundo sabe, mas ninguém comenta. Como se fosse um tema desagradável e inconveniente.
Quem traz um assunto de doença, perda e morte, em certas ocasiões é visto como terrorista emocional, num contexto social.
Alguém que está triste ou em luto parece um personagem que ninguém quer no cenário. Como se este fosse contaminar emocionalmente os outros ou simplesmente evocar o tema dentro de cada presente.
Pensar, sentir e agir sobre perda e morte deveria ser como pensar em como ser feliz e tranquilo. Afinal, ambos estão atrelados e inerentes ao cotidiano.
Pergunto-me: Haveria uma melhor forma para lidarmos com nosso leque de emoções e reações, seja individual ou coletivamente?
Creio que quanto mais acomodamos tais acontecimentos, mais tranquilos ficamos. E que medos podem ser apaziguados. Preocupo-me com nossa sociedade, onde as estatísticas dos transtornos de ansiedade e depressão dão saltos quânticos.
Quanto mais acolhermos internamente a doença e a morte, melhor nos cuidaremos e poderemos acolher quem está nessa condição de enfermidade ou luto.
Acolher não significa aceitar, muito menos estar plenamente confortável diante dessas adversidades. Significa reconhecê-los como condição sem a qual não viveremos. Pertencem ao cotidiano e são passíveis de acomodação.
Transitar do medo ao amor, da dor ao prazer é a perfeição da vida. Tudo faz parte da ordem de todas as coisas.