Histórias de Cariocas que trocaram o Rio por Portugal – Parte 1

Uma leva de novos emigrantes em busca de qualidade de vida, oportunidades profissionais e de negócios que não encontram do lado de cá do Atlântico.


Lisboa Portugal Bogoricin Prime foto interna

A rotina da produtora Valéria Lima, 45 anos, consiste no que a imensa maioria das pessoas consideraria um sonho. Ela acorda às 7h15, pouco antes de o filho mais velho, Lucas, de 15 anos, ir para o colégio. Toma café da manhã e sai com o mais novo, Artur, de 8 anos, em uma agradável caminhada de exatos oito minutos pelo bairro da Graça, em Lisboa. Deixa o garoto na escola, pega o metrô ou o pitoresco bonde número 28 e vai para a academia, onde costuma encontrar o marido, Tico Moraes, publicitário, 45 anos. Encerrada a malhação matinal, o casal segue em novo passeio, agora pelo centro histórico lisboeta rumo à produtora de fotografia e animação que eles fundaram no bairro do Chiado. Até o dia acabar, eles terão grande chance de encaixar na agenda programas como um rápido café com amigos, um jogo de futebol dos meninos ou uma happy hour. “Minhas amigas do Rio pensam que eu não trabalho”, diverte-se Valéria. “O que elas não sabem é o significado da palavra tempo. T-e-m-p-o! E isso é o que não falta aqui.”

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(Bruno Barata/Veja Rio)

Radicados desde o fim de 2015 em uma das cidades mais charmosas do Velho Mundo, Tico, Valéria e os dois filhos são parte de um contingente de cariocas que decidiu fazer as malas, empacotar a mudança e partir rumo a Portugal. Os dados mais recentes do Itamaraty, apesar de não refletirem o estado ou a cidade de origem dos expatriados, revelam que cerca de  66 000 brasileiros vivem na capital do país, enquanto outros 50 000 estão cadastrados nas representações de Faro e do Porto. Paralelamente, estimativas baseadas nas estatísticas do serviço diplomático português no Brasil mostram que a concessão de cidadania portuguesa a brasileiros em 2016 aumentou 35% em relação a 2013. Para essas pessoas, Portugal ganhou ares de Eldorado, mesmo que o país ainda não se tenha recuperado totalmente do impacto sofrido com a crise global de 2008. Quando Tico e Valéria tomaram a decisão de partir do Rio, sabiam que a economia lusitana estava longe de seus melhores dias. Mas já haviam vivido por lá entre 2001 e 2008 e optaram por arriscar-se. “Aqui conseguimos enxergar a chance de crescer não só no mercado europeu, mas também em lugares como o Oriente Médio”, diz o publicitário.

Estudiosos dos fluxos migratórios em Portugal costumam definir a atual onda de brasileiros como a quarta fase de um fenômeno iniciado há pouco mais de trinta anos. A primeira fase ocorreu entre meados dos anos 1980 e início dos 1990, quando o Brasil mergulhou em uma grande instabilidade e a antiga metrópole, em contrapartida, desfrutava os benefícios da entrada na União Europeia. Tratava-­se de um movimento protagonizado por profissionais de nível superior completo que se va­­liam de lacunas no mercado de trabalho local. A segunda fase, no fim dos anos 1990, foi marcada por um brutal aumento nos desembarques e transformou os brasileiros no maior grupo de estrangeiros no país (posto que ainda ocupamos, seguidos dos cabo-­verdianos, ucranianos, romenos e chineses). “Eram imigrantes que buscavam vagas na construção civil e nos empregos domésticos”, avalia o sociólogo Jorge Macaísta Malheiros, professor do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa.


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Rachel Verno- Lisboa – Portugal

Jornalista com mais de 15 anos de experiência em revistas, periódicos e produção de conteúdo de marca. Grande experiência no desenvolvimento de projetos de conteúdo editorial e multicanal, redesenho de plataformas de conteúdo, criação de novos projetos e também gerenciamento de profissionais multitarefas. Nos últimos anos participou e liderou a criação e lançamento da plataforma de conteúdo Vamos, LATAM Airlines, e criou projetos e peças especiais escritas para títulos como ELLE, Glamour, Viagem & Turismo e muitos outros customizados.

Site: http://vejario.abril.com.br



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